Há dias... e dias...

Há dias e dias e hoje… sinto-me invadida por uma estranha sensação de não sei o quê…

Passei o dia a analisar-me em relação à comida! Parece uma obcessão esta que tenho. Nunca estou bem… Passo as horas e os minutos a pensar no que vou comer; no que não posso comer e nunca relaxo! Era tudo tão mais fácil quando tinha ‘ajuda’!

Os primeiros anos que frequentei a clinica do Dr. Fernando Póvoas não era absolutamente nada penoso fazer dieta! Os medicamentos faziam o trabalho todo… abstrair-me da comida! Com o passar dos anos o meu corpo habituou-se a eles até ao dia que deixaram de fazer efeito!

Um dia resolvi ir ao meu médico, o meu querido Dr. Álvaro. Disse-lhe que queria emagrecer, que sentia que comia compulsivamente… Ele disse-me que a única solução era fechar a boca! Que se queria consultas de obesidade tinha de engordar porque nem sequer excesso de peso eu tinha… Sentia-me incompreendida e revoltada! Este meu médico acompanha-me desde os meus 14 anos de idade… Viu-me crescer; casar; ficar grávida… viu-me ainda com disturbios alimentares ao ponto de ficar de baixa 3 meses… ‘Vou mandá-la para casa para a Teresa aprender a viver’, disse-me ele! Nesta altura preocupava-o o meu escasso peso… sofria de anorexia nervosa.

Recuperei e tentei afastar-me dos medicamentos do Póvoas mas o medo de engordar era atroz! Nesta altura socorria-me de cigarros para enganar a fome…

Sempre recorri a muletas nesta luta contra o peso mas todas estas muletas foram ficando pelo caminho, por uma razão ou por outra e hoje, sem suportes, é dificil aguentar…

Ás vezes penso que gostava de ser uma pessoa normal, daquelas que não passam a vida a pensar na comida e no que me vai fazer mal… Quanto mais penso, mais me apetece pecar e atacar o que estiver mais à mão como compensação de não sei o quê!

Dizem que quando estamos carentes nos refugiamos na comida… Mas e quando não estamos? Que desculpa vamos usar?

Eu só queria ser como as outras pessoas… Sem este fantasma que me assombra a toda a hora; que me tenta derrubar quando me levanto; que me faz sentir desejo quando luto contra; que me faz perder a cabeça e num impulso estragar tudo…

Estou cansada de me controlar… De ser policia de mim mesma… De me boicotar e me torturar… Estou cansada…

Será que um dia vou conseguir ser normal? Sem muletas nem guias nem livros nem nada… Será que um dia vou conseguir ser eu, apenas eu, duma forma consciente e cuidadosa, relaxada e meticulosa, mas Eu?

Será que vou ter de me render e aceitar o meu corpo assim como estou? Será que estes 10 kg que me pesam a mais na balança, algum dia vão deixar de me pesar na alma? Será que vou ter forças para continuar esta luta até atingir os meus objectivos?

Será?

Será?

Há dias que sinto uma força enorme, capaz de empurrar o mundo…

Há dias que me sinto pequenina e fraca para arrastar seja o que for…

Há dias que só queremos que acabem depressa…!

Há dias que só nos apetece dedicar… ao amor…

Teresa B. aspirante a 'Roquette'