Sempre tive dificuldades nos velórios em olhar,
tocar, estar perto. Quanto mais longe pudesse estar, melhor, independentemente
do grau de parentesco que ligasse aquela pessoa a mim. Na quinta-feira percebi
e senti a dor daquela mãe a ter que se despedir da filha; os últimos momentos
que a iam separar para sempre daquela criança e doeu, doeu, doeu!
Doeu-me a alma, o coração, a cabeça, a garganta… tudo! Sentia um nó que me
impossibilitava de falar; sentia as lágrimas que caiam umas atrás das outras; senti
uma dor tão grande (não sei como é que alguém aguenta). Aqueles pais estavam
preparados, preparados espiritualmente para aquele desfecho. Lidaram com a
situação duma forma tão grandiosa que até me arrepio agora que escrevo.
Percebemos que não estavam zangados com DEUS, percebemos sobretudo que se
sentiram pequeninos, muito pequeninos perante a sua impotência em derrotar uma
doença tão mortífera. A mãe só pedia desculpa à filha por não a conseguir
salvar e cada vez que ela dizia aquilo o meu coração ficava ainda mais apertado
e eu sentia-me ainda mais pequenina, muito pequenina mesmo. O Padre fez uma
missa bonita, sentida, emocionante. A madrinha escreveu uma carta de
agradecimento à menina (sua afilhada) que nos comoveu a todos. Foi algo que
nunca vou esquecer na vida… Cada vez que penso no tema apetece-me chorar. Cada
vez que beijo a minha filha lembro-me daquela mãe que beijou a sua filha pela última
vez e parte-se-me o coração.
Foi aquela menina, mas podia ser qualquer outra
menina deste mundo…
Foi aquela mãe que sofreu a perda, mas podia
ser uma outra mãe qualquer…
Tento afastar estes pensamentos de mim mas é difícil
não nos deixarmos abalar.
...
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