sexta-feira, 8 de abril de 2016

#esefosseeu

Imagem daqui
Para começar é horrível PENSAR nesta questão! Depois acho que por muito que agora pensemos com grande discernimento acerca disto, se algum dia acontecesse-se acredito que faríamos tudo de maneira diferente. O instinto de sobrevivência faz-nos agir sem pensar, quando o nosso único propósito é salvarmos-nos (da guerra; de um acidente; de um incêndio, etc.).   

Vou-vos dar um exemplo, quando eu tinha 10 anos houve um incêndio no nosso prédio. No 1º andar moravam os nossos vizinhos; no 2º a minha madrinha mais os meus primos; o 3º e o 4º andar eram partilhados pelos meus tios e pelos meus pais. O meu quarto ficava no último piso e o incêndio aconteceu no 2º. Só me lembro de ouvir gritos nas escadas e quando abri a porta do quarto só vi fumo! Estava com a minha irmã Belisa, mais velha que eu 4 anos e nem falamos, desatamos a correr escadas abaixo até à rua! Só paramos à porta de casa de outros meus tios que moravam mais abaixo, do outro lado da rua.

Nessa altura o meu pai estava acamado, por isso é ÓBVIO que ia precisar de ajuda para sair. Acham que eu me lembrei de quem quer que fosse? Entrei de tal forma em pânico que não disse nada a ninguém e fugi com todas as minhas forças.

Podem imaginar o que se segue… Os bombeiros fartaram-se de nos procurar pelo prédio todo e nós não estávamos lá… O fogo acabou por ser controlado mas o meu pai e o nosso hóspede tiverem de receber oxigénio por causa do fumo porque não conseguiram sair do prédio. A minha tia só pensava no dinheiro que tinha guardado no último piso e depois de estar a salvo, voltou para trás para o ir buscar, só que as escadas transbordavam água por causa das mangueiras e ela caiu, partindo um braço. Mais tarde os meus tios vieram avisar os meus pais que nós estávamos a salvo, na casa deles. Eu e a minha irmã assistimos a tudo da janela de casa deles, num estado meio apático.

Durante anos tinha medo de ir dormir; tinha medo de tomar banho; ficava em pânico se ouvia alguém gritar. Só pensava se acontecesse alguma coisa, se teria tempo de fugir…

Quem está de fora sem nunca ter passado por uma situação destas, é muito provável que diga que não fugia sem salvar pelo menos os pais ou quem quer que lá estivesse. Mas a verdade é que até nos depararmos com a situação, é uma incógnita.

Por isso esta questão da mochila é muito subjectiva. Levávamos o quê? Racionalmente pensaria em:
- Documentos de identificação meus e da Princesa (na mochila dela também teria que ter documentos de identificação das duas, em caso de separação, teria de haver algo que nos possibilitasse reencontrar mais tarde…)
- Fotografias (3 ou 4) das pessoas mais importantes da minha vida
- Chaves de casa, quase como que significasse que aquela saída era temporária
- Lenço grande que desse para proteger do sol ou do frio
- Calçado raso (botins ou sapatilhas) para muitas horas de caminhadas
- Manta térmica (a maior parte das pessoas que participa em trails, tem disto. Custa 5€ e seria sem dúvida uma vais valia)
- Lanterna
- Isqueiro
- Creme para queimaduras (do sol ou frio), não com o intuito de manter uma pele bonita, mas pelo instinto de nos pouparmos de dor
- 1 Bloco e 2 canetas (para escrever o que me fosse na alma, quer fossem as saudades do que estava para trás; as dificuldades da ‘fuga’; a ansiedade em relação ao futuro, etc. Iria ser o meu diário.)
- Pensos higiénicos…
- Água
- Barras de cereais
- Enlatados

Penso que não me ia agarrar muito às coisas simbólicas que representem memórias porque essas, estão dentro de nós e ninguém nos tira. Ia pensar em formas de sobreviver ao sol; à chuva e ao frio, por um tempo indeterminado, com a perspectiva de poder começar uma nova vida em segurança, com a minha princesa, família e aqueles que amo.


E se fossem vocês?

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